Não caber em caixas



 Por muito tempo tentei me caber numa caixa. Daquelas de papelão, amassadas, quadradas, que ficam guardadas no porão esquecidas em plena terça feira. Ou seja, me prendia em padrões sociais que se assemelhavam a amarras, que eu carregava como um peso, isso pesava, doía, cansava.

  Na primeira vez que me vi fora, fiquei longe de tudo, longe das redes, das notícias, dos murais. Quem era eu afinal? Se não estava descrita ali naquela cartilha que dizia como todos deveriam ser.

  Com o tempo percebi que talvez nunca estive escrita ali. Eu era eu, e ponto. Era cachos enrolados, risos frouxos, cabeça na lua e desenhos de estrelas pelos jeans rasgados, era música de CDs nunca ouvidos engavetados e filmes tipo Eduardo e Mônica. 

  Quem era afinal? Não cabia em cartilhas: a história ainda precisava ser escrita, mas agora a caixa estava aberta.