Mais um dia dialogavamos sobre coisas da vida, e dessa vez, soltei uma frase que viria a ser muito importante "só que você fala tanto desculpa que deixou de ser genuíno e passou a ser apenas para evitar conflito" "Você vai querer anotar essa frase?" "Vou" disse eu mais uma vez sacando o celular da bolsa.
Aquela frase pegou fundo na minha memória. Talvez, aquilo dizia mais sobre mim do que sobre ele, sobre um passado distante em que eu me desculpava por um espirro mais alto, sobre uma pisada no chão indevida, sobre qualquer coisa.
Eu sabia mais do que ninguém o que era passar por aquilo. Se desculpar e chorar em chamadas por se achar errada sempre, chorar sem parar no carro. De achar que as coisas não deveriam estar daquele jeito, e que a culpa até do dia estar ensolarado era minha.
Quando revejo algumas coisas sobre o passado percebo o quanto já me deixei levar por desculpas que já não eram genuínas, de tanto que me desculpei. E talvez, só talvez, aquelas desculpas nem deveriam ter existido.
E por conta disso, ver ele daquele jeito me dava vontade de chorar. Ele era importante demais para passar por uma situação como aquela, especial demais para se desculpar por tanta coisa que nem se quer eram culpa dele. Minha única reação foi dar um abraço daqueles fortes, que pareciam não acabarar nunca, porque a vontade era de ficar ali para sempre dizendo que ficaria tudo bem.
E ele vai ficar bem, leva tempo. Uma das únicas certezas que eu tinha é que ele merecia mais do que qualquer um ser feliz.
Dentre tantas estações, anualmente chega a primavera afinal, certo?
