Caixão e caos



 Eu não sei lidar com a dor, muito menos demonstrar ela. Naquele velório eu vi que minha família é puro caos: o velório mais alegre que já fui. Embora não via todo mundo junto fazia anos, aquele tipo de ocasião é daquelas que você nunca quer que aconteçam, mas que a gente nunca consegue prever. 

  Todos ali fingiram vestir uma máscara invisível de parecer bem. Minha vó, sempre sorridente, mas com o coração mais despedaçado do que nunca por ter perdido sem companheiro de mais de 50 anos. Bastou um abraço meu e ela despedaçou completamente, não sabia o que fazer.

  Eu tive crises de choro por 3 momentos específicos que era tanta coisa dentro de mim que não me aguentei, mas foram os únicos momentos que mostrei a mínima fragilidade aquele dia e seguia fazendo mais piadas do que nunca. Percebi que não era só a minha, mas a maneira de praticamente todos ali de não demonstrar a dor. 


Todos fingiam saber lidar com isso.


Nenhum ali sabia. 


  Eu estava despedaçada, ainda estou. Tenho fingido plenitude durante a semana inteira, mas por dentro eu tô mais perdida do que em anos. Mas o que fazer? Pelo menos agora sei admitir isso para mim mesma e isso já é um avanço gigantesco.