Sobre luto - Barquinho de papel

 "Quando eu te deixar, vou levar papel em branco. Espalhar por cada canto um barco de papel."




Guardarei você comigo vô. Em minhas ações, em meus aprendizados, em minha mente. 

  Te levarei comigo em minhas caminhadas, nas pedrinhas que deixarei e que também colherei por aí. Meus propósitos, seguirão repletos de aprendizados seus.

  Foi simplesmente a pessoa mais forte que já conheci e que deixou um pouco de si a cada fio de cabelo que ficou, e ainda assim, se manteve fiel às suas crenças e não reclamava de nada, apesar de toda a dor que tinha todos os dias.

  A última vez que o vi, não imaginaria jamais que seria a última. Magro, cabelos grisalhos e deitado naquela cama do quarto vendo os programas de sempre. Deitei como todas as vezes e comecei mais um dos infinitos diálogos sobre a vida. 

  Contei mais uma vez sobre como andavam as coisas e lembro que ficou muito feliz por mim - "quando a gente faz o que gosta é outra coisa né... Você sempre foi boa nisso" e poucas palavras, me deixaram muito feliz. Nunca dizia nada em vão, era alguém de poucas palavras, mas ainda assim todas eram verdadeiras e carregadas de significado. Me disse que estava feliz por se livrar da quimioterapia, e como sua rotina tinha mudado por causa do câncer, meu coração ficou despedaçado. Então comemos uma boa pratada de almoço e nos alegramos de novo. Depois disso, só vi ele no caixão. Chorei por horas sem conseguir entender o quão os últimos anos tinham sido cruéis, mas de fato ele deixou um legado que estará em muitos corações.

  



2/04/2024